domingo, 17 de julho de 2011

Isaque

Me lanço por 30 segundos
Sob o abismo em preto e branco
Ovelha nua sobre a zebra de abate

Sou-me, inerte à treva:
Vai ter-me em suor

Flutuo nos fechos brancos
No asfalto armado o altar
Pai, onde está o cordeiro?

Deus proverá para si now!






sexta-feira, 1 de julho de 2011

'O Caminho do Campo'



"Do portão do Jardim do Castelo estende-se até as planícies úmidas do Ehnried. Sobre o muro, as velhas tílias do jardim companham-no com o olhar, estende ele, pelo tempo da Páscoa, seu claro traço entre as sementeiras que nascem e as campinas que despertam ou desapareça, no Natal, atrás da primeira colina, sob turbilhões de neve.
Próximo da cruz do campo dobra em busca da floresta. Saúda, de passagem, à sua orla, o alto carvalho que abriga um banco esquadrado na madeira crua".
(Trecho do texto: O Caminho do Campo | Martin Heidegger)


Vivenciando a vida e mortificando a morte. Onde encontramos o limite, a exatidão, que separa a cultura da natureza, a vida da existência?
O homem significa os fatos para dar sentidas as causas. Abstrai, achando que encontrou aquilo que por ele mesmo foi dado: o sentido.
Natal, um dos significados mais cauterizados na cultura humana, traz suporte ao sentido do nascer, do passar à existir. Traz significâncias a terra de onde foi provido. As velhas tílias, por exemplo citadas no texto, tem como terra natal, o jardim do castelo.
Enquanto o autor descreve as sementeiras que nascem descreve também as campinas que despertam ou desaparecem, em pleno Natal. Nesse Natal descrito aqui, não faz sentido as campinas, as tílias, as colinas, pois elas vivem pela temporalidade, e discretamente indiferentes, morrem em pleno Natal. Mas como se morre no Natal?
Na música “Por Enquanto” do poeta Renato Russo, ouvimos que: Mudaram as estações, nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu. Está tudo assim tão diferente. Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar. Que tudo era pra sempre. Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba. Acaba porque morre; morre porque a cada estação, a natureza triunfa, e o corpo que somos perece.
Para suportarmos a morte criamos a Páscoa, também presente no texto. O poder de matar não é exclusivo do ser humano, mas o de “transformá-la”, sim. Na última linha do parágrafo, Heidegger detalha a cena do carvalho que abriga um banco esquadrado na madeira crua. Vemos a imagem de um carvalho que vela uma outra árvore morta, já transformada em banco, percebemos então a grandeza da significação, o fascínio que existe na Metafísica da Páscoa. A morte morre, para que renasça num outro corpo. Em forma de bancos, de fênix, de adubo, de Cristos.